17/04/2017

Delatores relatam fraudes em licitações de estádios da Copa

Marcelo Odebrecht contou que, para ser a abertura da Copa, o preço da Arena Corinthians dobrou. Maracanã também aparece nas delações

Delatores relatam fraudes em licitações de estádios da Copa

Os delatores da Odebrecht revelaram interferência política nos projetos e fraudes em licitações de seis estádios da Copa do Mundo de 2014.
O estádio do Corinthians nasceu em uma frase. “Esse assunto, como é que ele nasceu, basicamente um pedido de Lula para meu pai”, conta Marcelo Odebrecht.
Um jantar na casa de Marcelo Odebrecht celebrou o acordo. Ele contou que para ser a abertura da Copa, o preço da Arena Corinthians dobrou.
“Nesse jantar, acertou-se de boca, informalmente o que levaria-se a um modelo final e os compromissos que cada um assumiria. O Corinthians disse que toparia fazer o estádio que pudesse fazer a abertura da Copa do Mundo. É um absurdo porque, na verdade, você faz um estádio para um dia”, relata Marcelo Odebrecht.
Com problemas de financiamento, Marcelo Odebrecht conta que procurou Dilma Rousseff: “Esse custo de 820 mais com algumas exigências da Fifa já estava em 1 milhão e pouco (R$ 1 bi). Aí, a essa altura do campeonato, é que você já se enrolou. Você tá lá, o estádio tá lá pra inaugurar, a pressão, volta aquela história de estádio de abertura da Copa. Aí eu vou para a presidenta e falo ‘presidenta, eu tenho um problema aqui, eu tenho um buraco, a gente tem um buraco, o Cortininhas tem um buraco de 350 milhões. O Corinthians não tem de onde tirar o dinheiro”.  
Ele disse que o novo empréstimo foi aprovado: “A gente sempre, nesse assunto, seja via Alexandrino, seja via meu pai, seja via o próprio Andrés Sanches, a gente sempre ficava no pé do Lula, porque no fundo, quem tinha metido a gente nesse enrosco era ele”.
O Maracanã também aparece nas delações. Segundo os ex-executivos da Odebrecht. No estádio, o pontapé inicial das irregularidades foi uma licitação de cartas marcadas.
Marcos Vidigal era diretor de contratos. Ele disse que a construtora Delta, de Fernando Cavendish, só entrou no consórcio por um favor político: “Era uma determinação política do governador”.
Pergunta: Qual governador que era na época?
Marcos Vidigal: Governador Sérgio Cabral.
O superintendente da Odebrecht no Rio, Leandro Azevedo, disse que pagou R$ 1 milhão em propina ao presidente do Tribunal de Contas do Estado, Jonas Lopes. O pedido total seria de 4 milhões, mas com o início da Lava Jato, o executivo interrompeu os pagamentos. Mesmo com as notícias das primeiras prisões, a cobrança não parou.
“E eu fiquei sem graça, porque a gente estava no meio da Lava Jato, tinha acabado de acontecer a prisão do... se não me engano do presidente da OAS... dezembro, tinha acabado de acontecer as operações. Era capa do jornal todo dia. Em cima da mesa tinha O Globo... E aí eu, delicadamente, virei para ele e falei: "presidente, vou ao toalete, o senhor por favor dá uma olhada na capa do o Globo e eu volto". Ficou super sem graça e virou pra mim e falou "peço mil perdões, sei o momento que vocês estão vivendo é horrível. Mas é que estou sendo muito pressionado pelos outros conselheiros", diz Leandro Azevedo.
O delator Benedicto Júnior relatou fraudes na licitação de outros quatro estádios: Mané Garrincha, e as arenas Pernambuco, Castelão e da Amazônia.
A Odebrecht, a Andrade Gutierrez e a Carioca Engenharia fizeram propostas com preços combinados, já sabendo quem iria vencer.
“Quem supostamente vai ganhar a licitação pede a outra empresa que faça uma proposta um valor pouco acima do que seria a proposta dela, como ganhadora, de forma que você acaba cobrindo ela no certame, permitindo que ela seja escolhida. Já que a outra proposta em tese era mais alta que a primeira, e ela acaba ganhando, burlando a licitação”, relata Benedicto Júnior.
A defesa de Sérgio Cabral declarou que só vai se manifestar na Justiça.
A assessoria de Lula afirmou que não há nenhum ato ilegal do ex-presidente no caso relatado por Marcelo Odebrecht e que as delações devem ser acompanhadas de provas.
A assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff declarou que ela nunca manteve relação de amizade ou proximidade com Marcelo Odebrecht.  Que, muitas vezes, os pedidos da empresa não foram atendidos pelo governo, em respeito ao interesse público. E que é mentira a afirmação de que a ex-presidente tinha conhecimento de situações ilegais envolvendo a Odebrecht e os dirigentes do grupo.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com a defesa de Jonas Lopes.

Fonte: Globo.com